ABCCC
O cavalo crioulo da atualidade, contudo, é fruto não somente dos fatores geográficos, climáticos e da seleção natural que moldaram as suas características, mas também de uma apuruada seleção técnica que vem sendo feita há 64 anos no Brasil.
Foi a apartir de 28 de fevereiro de 1932, data em que um grupo de crioulistas fundou a Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos( ABCCC), que o cavalonativo das coxilhas e pampas do Rio Grande do Sul passou a ser enquadrado dentro de um "standard" racial determinante para sua seleção.
De acordo com o superitendente de Registro Genealógico da ABCCC, veterinário Gilberto Loureiro de Souza, criador em Lavras do Sul (RS) , na Fazenda São Crispim , a padronização racial do Crioulo iniciou na Argentina.
Foi o veterinário e criador argentino Emílio Solanet que iniciou o processo, quando na década de 20 buscou junto a tribos indígenas na província de Choubut, perto dos Andes, éguas Crioulas de elevado padrão racial e grande rusticidade, dando início a uma seleção que determinou o "standard" da raça.
A partir desse "standard "a ABCCC criou uma Comissão Técnica de Inspeção, para analisar os animais com as características indicadas e registrá-los em Livro Aberto. Este livro foi usado durante 23 anos e depois fechado. A partir de 1955 todos registros de animais feitos pela ABCCC são de descendentes daqueles feito no Livro Aberto ou então animais importados e com registro no Uruguai ou Argentina.
Com um peso variando entre 400 e 450 quilos, o "standard" racial determina com perímetros máximos e mínimos, altura entre 1,38 metros e 1,50 para fêmeas e 1,40 metros a 1,50 machos.
O Crioulo é um cavalo de temperamento dócil, versátil, expontâneo e econômico, garantem os criadores, podendo a nível de estância ser criado com alimentação unicamente a campo e utilizado em todos os segmentos nas lides diárias.
"O nome Crioulo era empregado pelos primeiros criadores para designar o cavalo nativo, que vivia solto nos campos. Este cavalo era preferido nas fazendas porque executava qualquer atividade, puxando carroças ou fazendo trabalhos de campo, crescendo e propriando em condições naturais, com grande rusticidade e longevidade ", destaca Loureiro de Souza.
Por ser fruto de uma raça que se desenvolveu adaptando-se ao meio ambiente, ele não é um cavalo precoce, diz o superitendente técnico, mas também pode-se acelerar o seu desenvolvimento através dos cuidados com a alimentação. Em contra partida é um cavalo que começa a ser usado aos 3 anos e trabalha até depois dos 20, havendo inclusive vários registros de animais em atividade até quase os 30 anos.
FREIO DE OURO
O surgimento da idéia que atualmente mobiliza centenas de criadores, ginetes e cavalos na maratona de provas do freio de Ouro, originou-se de uma conversa entre três crioulistas num final de tarde de 1978, enquanto tomavam chimarrão numa cabanha no município de Jaguarão. (RS).
Foram o veterinário Fernando Rodrigues Affonso, da Estância Boa Vista, o Coronel de Cavalaria Bayard Bretanha Jacques e o zootecnista Luiz Carlos Albuquerque, da Cabanha São Luiz, todos daquele município, com apoio de outros criadores,os mentores das provas funcionais que evoluiram para o Freio.
Fernando Affonso, crioulista desde 1965, conta que, em 1972, três cavalos Crioulos de origem chilena vieram para a exposição de Esteio. Um deles era La Invernada Hornero, outro Pozo Azul Chacão e o terceiro, La Invernada Buitre.
A excelência dos animais chilenos encantou os criadores gaúchos eum condomínio formado por crioluistas de Jaguarão comprou Pozo Azul Chacão, que passou a ser usado para coberturas.
Logo as características raciais de funcionalidade do sangue chileno se fizeram notar nos filhos de Pozo Azul, que começaram a destacar-se no meio da cavalhada nas atividades de campo. "Eram cavalos muito bons", lembra Fernando Affonso.
O diferencial de funcionalidade desses animais em relação aos outros, foi que motivou nos três crioulistas a idéia da realização de algumas provas funcionais, que demonstrassem toda a habilidade do cavalo Crioulo.